Continuando o post anterior...
O sistema de ensino francês (complementos)
Gostaria de deixar claro uma coisa que esqueci de falar na parte do sistema de ensino: a formação de engenheiro na ENPC, apesar de ser direcionada a uma ou outra área, NÃO proporciona um diploma com “ênfase em alguma coisa" (por exemplo, Bacharel em Engenharia Civil com ênfase em Transportes), ou seja, todos os alunos terminam os estudos e recebem exatamente o mesmo diploma. Outra coisa é que cada semestre possui nomes (bastante intuitivos) de acordo com o número do mesmo. Os dois semestres do ano L são o S1 e o S2, assim como os seguintes são o S3 e S4 (ano M1) e S5 e S6 (ano M2). Essas siglas parecem bobas, mas são importantes para entender uma porção de informações disponíveis no site da ENPC.
A dúvida (talvez cruel): ficar 2 ou 3 anos?
A questão é a seguinte: decidir entre ficar 2 ou 3 anos fora do nosso querido país. A dúvida ocorre devido às duas opções de “estágio” existente durante o curso na École de Ponts (“estágio” entre aspas será explicado daqui a pouco). Entre os anos M1 e M2, o aluno deve escolher entre fazer um estágio de 2 meses durante as férias (chamado stage court) ou fazer um estágio com duração de 1 ano (o chamado stage long). Nos dois casos, o aluno irá trabalhar full time, ou seja, o dia inteiro, e a intenção da École é realmente de dar ao aluno uma visão de como é trabalhar de verdade. Apenas reforçando para ficar claro, mesmo o estágio de 1 ano é feito ENTRE os anos M1 e M2, ou seja, o aluno estuda durante 1 ano na França, depois faz um estágio de 1 ano (full time), depois volta para a ENPC para estudar por mais 1 ano. Esses estágios podem ser feitos na própria França ou em outro país e a ENPC dá palestras úteis sobre como redigir um CV, como se comportar numa entrevista de emprego, etc. Porém, no final das contas, quem vai correr atrás e conseguir o stage é o aluno, a École não fará nada além de lhe mostrar o caminho. Ficar 3 anos, apesar de parecer loucura, pode ser útil para aqueles que porventura não conseguirem uma bolsa para ficar na França ou aqueles cuja bolsa dure apenas 1 ano, pois durante o ano de trabalho o aluno recebe relativamente bem e pode, então, guardar algum dinheiro (claro, tudo vai depender do modo de vida da pessoa e do stage que ela conseguiu).
Stage versus estudos
Primeiramente, gostaria de explicar porque falei “estágio” entre aspas. A questão é que lá o que eles chamam de “stage” é o que nós consideramos como Engenheiro Júnior ou talvez até mesmo trainee, não é aquele “estágio” em que a pessoa vai ficar tirando Xerox, ou despachando documentos, fazendo desenhos de CAD, coordenando equipe de peões, etc, etc... O aluno irá trabalhar durante o dia inteiro e APENAS trabalhar (nada de aulas), ou seja, se aproxima mais de um emprego que de um estágio (falando nos moldes brasileiros), além de executar tarefas como se já fosse um engenheiro formado (claro, de acordo com o nível de formação já adquirido pelo aluno; ninguém espera que você haja como um super engenheiro formado e cheio de experiência). Já durante as épocas de estudo (os anos M1 e M2), o aluno APENAS estuda: além de não dar tempo de conseguir um emprego (normalmente), acho que tem alguma coisa da École que proíbe o aluno de trabalhar (mas não tenho muita certeza se existe isso mesmo ou se eu que pensei nisso... mas é algo assim, lembro da Diretora da ENPC ter comentado algo do tipo). Outra época de “estágio” durante o curso é o chamado stage scientifique, realizado durante o ano L, com duração de cerca de 3 meses. É para esse tipo de stage que alguns alunos da ENPC vieram ao Brasil no ano passado (Nicolas, Seb e a Agnès) e esse ano vem mais alguns (não sei os nomes ainda, mas são 4 da ENPC e mais 2 da Universidade de Rouen). Ainda, no S6, o aluno deve fazer o chamado Projet Final, em que ele não tem mais aulas e fica por conta do projeto de graduação. Esse projeto é desenvolvido dentro de uma empresa real e a pessoa depois faz cerca de um relatório (obviamente extenso) sobre as atividades desenvolvidas nesta empresa. O bacana disso tudo são os fatos de você poder se dedicar única e exclusivamente a esse projeto, além de você desenvolver algo que é real, concreto, palpável, realizável e que acaba transcendendo aquela coisa meio teórica demais de um projeto de graduação feito no Brasil. Maiores informações sobre cada stage e sobre o projet final, não hesite em consultar o site da École de Ponts.
Fazendo as contas em euros
Bom, esse tópico é para responder àquela famosa pergunta que nós fizemos diversas vezes e que agora escutamos também diversas vezes: será que a bolsa dá? E a boa notícia é que SIM, ela é suficiente! É claro que ela não é suficiente para se fazer uma viagem ao Brasil todo mês, mais três viagens aleatórias, comer nos melhores restaurantes e viver no melhor hotel disponível... Mas dizem (nossos amigos que lá estão e os que já foram pelo programa antigo de 6 meses) que mesmo a bolsa anterior (de 600€) era suficiente para viver por lá. Já ouvi falar que com cerca de 500€, 550€ a vida é relativamente boa. O mais pesado de tudo são o alojamento (390€, veja tópico mais abaixo) e a alimentação. No entanto (e corrijam-me se eu estiver errado, caros colegas), a ENPC dá uma ajudinha de custo (pouca, mas válida) para os alunos, 2,24€ por dia (que geralmente vão todos embora no almoço). Com a bolsa de 870€, a coisa é ainda melhor e dá-se para ter uma vida mais feliz. Imagine agora com uma bolsa de 1181€? Ma-ga-vilha! Haha! Enfim, no final das contas, dá para viajar bastante pela Europa, dá para viver bem e dá para vir ao Brasil, nem que seja 1 vez por ano. Informações mais detalhadas eu não tenho, mas lá vai algumas curiosidades que eu descobri pela vida afora: (1) uma garrafa de vinho nacional (dos bons) é mais ou menos o mesmo preço de uma latinha de cerveja; (2) um sanduíche desses normais custa de 2 a 5€; (3) tem uns restaurantes em que você paga um preço fixo e tem direito a entrada, prato principal e talvez até sobremesa, mas esse preço é um pouco mais alto (cerca de 20 a 30€, nos restaurantes mais comuns); (4) no geral, os preços das coisas (de acordo com o site do Carrefour francês) são "iguais" aos do Brasil no sentido de que, se você ignorar o símbolo monetário, é tudo igual! =D
Acomodação e transporte
A École de Ponts se localiza na Île-de-France, que é como se fosse a região metropolitana de Paris. A distância entre a porta da ENPC e o centro de Paris é de mais ou menos 20 km. Quanto ao transporte, em geral não há com o que preocupar: há trens e ônibus para tudo quanto é canto e em vários horários (há até mesmo uns trens especificamente noturnos!). Não conheço nada de lá pessoalmente, mas sei por relatos de várias pessoas que andar pela França (especialmente por Paris e pela Île-de-France) é bem fácil, pois em todo canto há um mapa com as linhas dos trens/ônibus, o transporte público é confiável e pontual (em geral) e as coisas realmente funcionam. Há uma linha de trem (RER-A) que tem um ponto pertinho da Maison Meunier e que leva até Paris rapidamente. Se você quer saber mais sobre o transporte na França, visite o site www.ratp.info e fuce bastante! Por falar em Maison Meunier, falemos da acomodação. Os quartos dessa Maison são destinados aos alunos em nível M1 (em geral) e os preços (por mês) são os seguintes: 330€ (quarto para duas pessoas, 24m²), 390€ (quarto para duas pessoas, 32m²) e 579€ (quarto para uma pessoa, 20m²). Todos os quartos possuem banheiro, mini-cozinha (com alguns utensílios, pia, microondas, fogão de tampo, frigobar), camas, escrivaninhas, etc, etc, etc. No entanto, antes de escolher qual tipo de quarto você quer, considere o seguinte: o quarto menor e mais barato pode ser bastante incômodo. O Hugo (um dos que estão na França hoje) nos mandou um e-mail recentemente relatando que escolheu esse quarto e que se arrependeu, pois o conforto do quarto maior (de 390€) compensa pelos 60€ a mais... No mais, na Maison há uma lavanderia em que você deixa suas roupas (não sei se é paga a parte ou está inclusa no preço mensal) e sei também que tem uma "arrumadeira" que vai nos quartos uma vez por semana (favor me corrigirem se houver algo errado, pessoas!). Durante o stage, a ENPC não lhe arruma uma moradia, isso é também por sua conta (e custeio). No último ano, os alunos tem preferência na Maison de Mines, mas eu não sei nada de lá para falar aqui nesse post.
E o que levar para a França?
Essa também é uma das perguntas que mais fizemos para nossos amigos atualmente na França... E as respostas? (1) tênis lá são baratos; (2) as roupas de frio daqui talvez sejam insuficientes para o frio de lá (logo, é bom comprar lá, mas diz a Laísla para esperar Janeiro/Fevereiro que os preços caem bastante nas soldes); (3) não compensa encher as malas com livros daqui, porque lá você vai ganhar vários livros até e a didática e enventualmente algumas nuances das matérias são também diferentes; (4) levar comidas/bebidas que lhe farão falta (como feijão, pinga, massa de pão de queijo/polvilho, etc.). Ah! Importante! Leve também uma grana inicial! Não sei exatamente de quanto as pessoas precisaram, mas calculei cerca de 1500, 2000€. Esse dinheiro é para você pagar coisas como a carte de transport, três vezes o preço mensal da moradia (duas vezes para compor a "reserva caução" e uma vez para pagar o primeiro mês), taxas escolares e direitos de inscrição (não sei até que ponto as pessoas pagaram isso), seguro social, dinheiro para viver até o recebimento da bolsa, etc.
Bom, gente, é isso aí. Não sei de mais nada que eu possa falar por aqui, pelo menos por enquanto. É claro que há muito mais informações espalhadas por aí, mas se você realmente está interessado, busque-as no site da ENPC, nos sites das prefeituras (de Paris e da Île-de-France), nos sites dos sistemas de transporte, nos sites de guias turísticos, etc, etc, etc...
No mais, tenham todos uma boa semana!
PS: com relação às equivalências de matérias entre a ENPC e a UFMG, citadas no post anterior, há muitas controvérsias e especulações; portanto, NENHUMA DAS INFORMAÇÕES disponíveis neste blog (com relação a este assunto) deverá ser tomada como certeza absoluta!
PS: com relação às equivalências de matérias entre a ENPC e a UFMG, citadas no post anterior, há muitas controvérsias e especulações; portanto, NENHUMA DAS INFORMAÇÕES disponíveis neste blog (com relação a este assunto) deverá ser tomada como certeza absoluta!