sexta-feira, 25 de março de 2022

6 meses na França

Há uns dias, eu li uma postagem no Instagram sobre as diferentes escalas que temos em relação ao tempo. Quando focamos apenas no dia que estamos vivendo, o tempo parece demorar muito a passar. Porém, quando olhamos para uma semana, um mês ou seis meses, vemos que o tempo passou rápido. É essa a sensação que tenho ao estudar na França.

As primeiras semanas quando eu cheguei, pareceram demorar anos para passar. Burocracias para resolver, se sentir perdida na cidade e na escola, ter receio de não dominar a língua... Tudo isso parecia um buraco negro que me sugaria, mas agora, sinto que estou em uma nave no espaço. Talvez parada, talvez em movimento. Tudo depende do referencial.

Porém, depois de entender a dinâmica da faculdade e os meus reais interesses, a vida na França começou a ter um objetivo. Quando eu cheguei, tinha uma visão totalmente diferente (talvez muito idealizadora da perfeição) e agora, compreendo onde posso chegar com meus esforços.

Realmente, nem tudo ainda são flores, mas ter a compreensão de como funciona o sistema francês, as pessoas e a dinâmica da faculdade é essencial para você eu não me sentir o tempo todo perdida ou sozinha. É claro que, às vezes, ainda tenho esses sentimentos, mas nadar contra a correnteza requer muita energia. Entender sobre como a corrente d'água se movimenta é mais importante do que me afogar atualmente 😁.

Para as pessoas que vem sem bolsa, é possível fazer o intercâmbio e trabalhar. É evidente que não tem como viajarmos sempre com a galera e possivelmente, não teremos a mesma assiduidade na faculdade (pode ser que você tenha, mas eu não tive haha), mas será possível fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Assim como a maioria dos problemas, no início pode ser difícil encontrar uma oportunidade de trabalho, mas depois sempre vem uma solução.

As coisas melhoram...

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quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Nem tudo são flores...

Antes de vir para a França, eu lia todos os relatos possíveis, acompanhava os veteranos no Instagram e ficava maravilhada com tudo o que era mostrado. Porém, eu não tinha a percepção que nem tudo eram flores...

O intercâmbio, em si, não é algo fácil. Desde que você decide passar pelo processo seletivo, muitas coisas mudam - pelo menos, mudaram para mim: tive que me esforçar muito mais no curso, além de conseguir conciliar a vida pessoal com a vida acadêmica (mais projetos, estágio e pesquisa). Depois que eu passei no processo seletivo, recebi a carta de aceite, organizei toda a viagem e, enfim, cheguei na França, pensei que as coisas seriam iguais as do Instagram. Mas, não foram.

Essa é a minha experiência e pode ser que outras pessoas tiveram vivências totalmente diferentes da minha. 

Ao chegar na EIVP, não tinha um responsável pelos alunos estrangeiros. Os veteranos sempre falavam muito bem da RI da EIVP, porém eu não tive contato com ela, o que dificultou um pouco o meu processo, pois não tinha uma pessoa específica para me ajudar com os transmites de documentação (como alojamento, cartão de passagem e acessos da EIVP).

Por mais que você estude é difícil saber os termos técnicos da faculdade e há muitos. Nos primeiros momentos eu me vi pensando várias vezes se eu estava no lugar certo, porque é muito frustrante não conseguir acompanhar as aulas e ficar para trás nas explicações. Alguns professores não entendem isso: eles querem que você apresente no primeiro dia de aula, querem que você tenha a mesma capacidade de comunicação dos nativos. Isso não é geral, mas pode acontecer. A maioria dos trabalhos na EIVP quem escolhe os grupos é a escola, então pode acontecer de você cair em um grupo que não seja legal contigo e isso também aconteceu comigo.

Devo enfatizar que não estou escrevendo esse texto para te desmotivar, mas para te esclarecer que algumas coisas podem acontecer no seu processo de intercâmbio. Acredito que se eu soubesse de algumas coisas, eu estaria melhor preparada.

Voltando a história do grupo, eu basicamente fui expulsa (💩) do grupo de comunicação que participava, porque eu e outra brasileira éramos as responsáveis por apresentar um trabalho e os outros integrantes franceses do grupo não nos achavam capaz. Não exista a possibilidade de expulsão e mesmo que houvesse, foi algo que me fez ficar bastante desmotivada, pois havia uma preparação antes do trabalho e ouvir de alguém que você não é capaz trás um desânimo. E não tinha ninguém responsável por nós, estrangeiros, para procurarmos ajuda...

Algumas pessoas dizem que nos desenvolvemos bastante no intercâmbio, mas eu não pensava que era nos tropeços pelo caminho. Esses dois primeiros meses na França tem sido assim, vivendo um dia de cada vez para não surtar completamente. A cidade tem seus pontos positivos, ter um diplo diploma é algo fascinante, mas é preciso estar disposto a passar por essas oscilações e ainda assim, se manter de pé (para depois cair de novo).

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domingo, 26 de setembro de 2021

Vacinação e Visto


O texto de hoje está um pouco atrasado, mas gostaria de seguir uma certa linha de raciocínio. Desde a última publicação, muitas coisas aconteceram.

Primeiramente o governo da França liberou a entrada de estudantes com vacinação completa: 

- 21 dias após a dose da Janssen;
- 7 dias após a 2ª dose da Pfizer ou AstraZeneca.

Para quem havia sido vacinado com Coronavac ou não havia sido vacinado, não poderia entrar. Essa publicação ocorreu por volta de meados de julho. Muitos estudantes ficaram aliviados, principalmente porque os consulados começaram a publicar nos sites oficiais com textos tendenciosos sobre a reabertura do processo de visto dos estudantes. Entretanto, quem não se encaixava nas descrições de totalmente vacinados foi um completo desespero: e essa era a minha realidade.

Belo Horizonte se mostrou extremamente difícil para ajudar a resolver esse problema, não adiantando a vacinação para os estudantes. O estado do Espírito Santo vacinou todos os seus intercambistas, assim como Juiz de Fora. Em algumas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, os estudantes conseguiram se vacinar, mas nas capitais foi mais difícil. Sendo assim, cada estudante em sua cidade procurou e se desdobrou para conseguir se vacinar. 

Não foi algo fácil e espero que o processo de 2022 seja bem mais tranquilo. SE VACINEM!

Em agosto ou setembro, o governo Francês abriu as fronteiras para todos os estudantes, de todas as zonas (verde, laranja e vermelho), desde que seguissem alguns critérios de acordo com o local de partida (Brasil até hoje é zona vermelha) e o processo de vacinação. Aconselho a leitura de alguns sites para retirarem suas dúvidas, embora isso possa mudar com o tempo: 

Tanto a EIVP quanto a ENPC, enviaram e-mails aos alunos sobre a possibilidade de adiar a entrada: a EIVP para o 2º semestre (entrada em fevereiro) e a ENPC para entrada em outubro. Porém, para ambos os casos, acabaríamos "perdendo" parte do intercâmbio, então todos os alunos do G20 buscaram se vacinar e resolver os problemas para entrarmos em setembro (no caso, as aulas da ENPC começaram no final de agosto). 

Você só pode começar os transmites do visto com 3 meses antes da sua data de chegada na França (a data que está na carta de aceite). Primeiro você fará sua inscrição no Études en France, pagará uma taxa (se não for bolsista) e após, o consulado irá te convocar para se apresentar com a documentação. Cada consulado tem uma documentação específica e é aconselhável você utilizar a lista do seu consulado (Brasília, Rio de Janeiro ou São Paulo), pois não necessariamente um documento X no Rj será solicitado em Sp. Tem tudo explicadinho no site dos consulados e nesse momento, a leitura é muito importante, pois acabamos criando N paranoias e, às vezes, são coisas simples de se resolver. 

Após receber a carta de aceite da faculdade, eu aconselho a já começar organizar a documentação (visa de longa duração/ visa de long séjour). Parecem ser poucos documentos (e são!), mas alguns demoram para ficar prontos, como o passaporte e as declarações de idoneidade bancárias. Não espere os 3 meses anteriores a sua viagem para começar a organizar a sua documentação, comece o quanto antes. Tem alguns documentos que tem uma data máxima de expedição, mas outros não, como as fotos e xerox do passaporte. Pode acontecer de você finalizar a inscrição no Études en France e ser chamado dali 2 dias para o consulado. Caso você não tenha toda a documentação, eles recusam o seu visto. Outra coisa a se atentar é a foto do visto. No site do consulado tem todas as especificações de como a foto DEVE ser e como ela NÃO PODE SER. São coisas pequenas, mas já li alguns relatos de pessoas que passaram por alguns problemas no consulado por conta dessas minúcias. 

A convocação dos vistos foi feita de acordo com a necessidade de se estar na França. Os alunos da ENPC precisavam chegar na semana do dia 23 de agosto, então o consulado os convocou antes dos alunos da EIVP que eram apenas em setembro. Os vistos demoram 15 dias úteis para ficarem prontos. O meu saiu com 6 dias, mas varia de caso a caso. Após entregar os documentos no consulado, eles irão te entregar um papel para a retirada. Depois você recebe um e-mail para buscar. Você pode ir pessoalmente ou deixar um documento seu de identificação (ou xerox), o papelzinho e uma carta de próprio punho autorizando uma pessoa X a buscar para você. No e-mail que você recebe não te falam se aceitaram o seu pedido ou recusaram, você vai saber na hora. Mas para visto de estudante é bem difícil recusarem se você entregar toda a documentação que estará na lista. Algumas pessoas foram solicitadas a enviarem mais documentos por e-mail. Ah! Uma coisa a se atentar é se você não tiver bolsa, precisa comprovar uma renda de 615€ por mês durante o seu intercâmbio. 

Os consulados não controlaram a emissão dos vistos de quem era ou não vacinado. Essas informações foram verificadas no embarque no Brasil e, principalmente, no desembarque na França.

Depois de toda essa loucura de vacina e visto, o G20 embarcou! A galera da ENPC foi na frente (final de agosto) e nas primeiras semanas de setembro, o restante da EIVP.

Esse texto é mais informativo sobre os passos a passo a serem tomados. Não fique ansioso, pois os procedimentos são como um caminho que você tomará após ser aprovado. Se quiser conversar sobre, me chama !


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sábado, 26 de junho de 2021

Incertezas da pandemia

No final de 2018, eu decidi que tentaria o duplo diploma. A partir desse momento, comecei a procurar as pessoas que já haviam passado pelo processo para fazer N perguntas e me situar - além de que, desde aquela época, eu já sentia uma ansiedade de tudo o que eu passaria. Porém, quando eu conversava com algumas pessoas, eu não sentia aquela empolgação que eu pensava que a pessoa teria. Ao meu ver, passar em um processo seletivo de intercâmbio era algo tão longe da minha realidade que se alguém ganhasse essa oportunidade, seria feliz eternamente.

Depois que eu fiz o processo seletivo, nem tive tempo de ficar ansiosa pela resultado, pois no mesmo dia eles divulgaram os selecionados. No momento em que vi o meu nome, mil coisas passaram pela minha cabeça, misturando felicidade e medo. Felicidade por toda a caminhada que eu passei, porque manter as notas não foi algo simples e fácil, além de que eu tinha que ir bem na faculdade, aprender uma nova língua e ainda participar de iniciativas extraclasse. E o medo que eu senti foi pelo desconhecido: eu nunca viajei para fora do país, não sei se as pessoas irão me entender (e eu entendê-las), além de ter que dar um jeito para qualquer problema que aconteça sem o apoio da minha família ali do lado. Acho que esses medos ainda persistem...

O processo seletivo costuma ser em setembro/outubro e se você passa para a Ponts, a partir do momento da aprovação, você começa a organizar as papeladas. Basicamente você precisa montar o seu dossiê e enviar para a escola aprová-lo como aluno (e receber a sua carta de aceite). E sim, cria um medo da escola não nos aprovar, PORÉM isso nunca aconteceu. Caso você passe para a EIVP, esse processo será apenas no outro ano, por volta de maio/junho. A documentação depende de cada escola, mas não é nada extremamente difícil. Acredito que a parte que mais precisamos ter atenção seria a carta de motivação, pelo menos foi o documento que eu mais demorei para produzir (e é francês). Ah! Outra coisa importante são os certificados de proficiência: para a Ponts, você precisa comprovar o francês e inglês em A2 (GCC) e B1 (VET). Na EIVP não pediram comprovante, mas eles perguntam o seu nível. Nas duas escolas, para você formar, precisa ter proficiência B2.

Enfim, no meu caso, eu fiquei um longo tempo esperando para enviar a documentação (porque eu passei para a EIVP) e nesse período, algumas pessoas me chamaram para saber sobre o processo. Eu achei um máximo, porque eu amo falar sobre o duplo diploma, mas foi nesse momento que eu vi que eu não estava tão empolgada quanto eu imaginava estar. Um amigo me disse que ficou totalmente eufórico (e ainda está...) desde que passou no processo, mas eu continuo "neutra". Fico pensando nas incertezas, principalmente em conta da pandemia. Desde abril, as fronteiras estão fechadas para os estudantes. Estamos em junho e o processo de visto está parado. Não sei se irei embarcar neste ano, nem se farei o intercâmbio em 2021, porque as chances das escolas darem aulas remotas são bem baixas, visto que na França está quase tudo OK.

O que me resta é esperar, havendo a possibilidade de tudo se resolver em pouco tempo (ou não).


 


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sábado, 26 de dezembro de 2020

Pandemia? E agora?

Fiquei imaginando várias maneiras de começar esse texto, mas parece que as introduções são sempre as mais difíceis... Olá! Espero que você esteja bem. Eu sou a Karen e passei no processo seletivo do duplo diploma (DD) neste ano de 2020. 

Lembro-me desse mesmo período em 2019, quando eu ficava imaginando o ano novo e como seria em 2020. Isso porque eu já sabia que tentaria uma vaga no DD e, a partir do momento que você faz essa escolha, parece que tudo muda. Eu entrava toda semana no blog para saber se tinha alguma informação nova que pudesse me ajudar, eu lia e relia cada publicação para sentir as emoções de quem passou e, evidentemente, eu passei a me esforçar cada vez mais na faculdade. 

Eu entrei na UFMG no 2º semestre de 2018 e, após uma palestra do professor Roberto Márcio na disciplina de Introdução a Engenharia Civil, eu vi um sonho se formar. A partir daquele momento, eu procurei inúmeras informações sobre o processo e agora, olhando para trás, parece que tudo foi uma introdução - introduções são sempre as mais difíceis...

Porém, nesta publicação, eu gostaria de atualizá-los sobre como funcionou o processo seletivo na pandemia. As aulas em 2020 na UFMG pararam em março por conta da pandemia da Covid-19. Com isso, as pessoas que tentariam o processo seletivo (sempre as que estão no 5º e 6º período de Engenharia Civil), se viram em uma situação que nunca havia ocorrido antes, principalmente quem estava no 4º período. Isto porque, nós (eu fazia parte desse grupo) tentaríamos no período seguinte quando estivéssemos no 5º. Porém, em outubro, ainda estávamos no 4º período, porque a UFMG parou por um bom tempo as aulas. E, caso isso ocorra novamente, eu te aconselho a não parar de estudar francês e/ou utilizar desse tempo para aprofundar na língua. O que ocorreu foi o seguinte: acredito que pela primeira vez, quem estava no 4º, 5º e 6º período puderam participar desse processo. 

Assim que o edital foi publicado, um dos pré-requisitos era estar no 5º e no 6º período, porém, entramos em contato com o Roberto Márcio e ele percebeu que os alunos do 4º período também poderiam tentar, pois houve esse "atraso" por conta da pandemia. 

Para fazer a inscrição foi muito simples: enviar para o e-mail do edital o histórico escolar (poderia ser aquele emitido pela própria minhaufmg), o currículo em francês e em português, além da cópia dos documentos de identidade e CPF. Após algum tempo, nós recebemos um e-mail confirmando a inscrição com um código de acesso a uma equipe do teams. 

No dia 28/09, todos os inscritos deveriam estar presentes na reunião a partir das 09hrs. No total, foram 13 alunos inscritos. Depois que todos chegaram na chamada, os responsáveis pelo processo (apenas o Roberto Márcio e o Nilo), falaram como seria as entrevistas: algo breve, em até 20 minutos, em ordem alfabética e em francês. Logo após, todos os participantes saíram da chamada e os professores foram chamando nome por nome. 

Depois de 1h30, eu fui chamada. Eu estava extremamente nervosa! Assim que eu entrei na chamada, toda a entrevista ocorreu em francês. O professor explicou novamente (em francês!) como funcionaria e começamos. A primeira "pergunta" que ele me fez foi para falar sobre o meu currículo, da minha caminhada acadêmica e profissional. Depois ele me fez algumas perguntas sobre o meu currículo, as experiências que eu tive nas iniciações científicas, nos trabalhos beneficentes e sobre o que eu fazia no meu estágio. Ah, ele também perguntou sobre como o estágio estava acontecendo, visto que estávamos (estamos) em uma época de pandemia, enfim, nessa parte ele perguntou mais coisas detalhadas pessoais. Em seguida, ele me indagou onde eu estudei francês e por quanto tempo, depois ele perguntou do inglês (para as duas escolas, a EIVP e a Ponts, é necessário ter inglês). Em seguida, ele me perguntou se eu tinha maior afinidade em alguma das duas escolas e fechou com a questão de ouro: se eu iria sem bolsa.  Foram poucas perguntas e bem rápido, porque éramos muitos e acredito que os professores não queriam estender. 

Me disseram que o resultado saiu no mesmo dia, à noite, mas eu não recebi e-mail. No dia seguinte, me adicionaram em um grupo do WhatsApp da EIVP e eu fiquei meio confusa... No primeiro momento, pensei que tivessem feito um grupo com os participantes da 20ª geração, mas enviaram um arquivo com a divulgação dos aprovados e, por minha sorte, meu nome estava lá. 

Por eu ter me preparado durante longos (quase) 2 anos, assim que eu entrei na chamada, foi algo natural para mim. É claro que eu também preparei o meu psicológico caso não desse certo, porque havia essa possibilidade. Eu tinha total consciência que todos os alunos participantes eram muito feras e, para mim, estar ali, já era algo sensacional.

Para ser sincera, até hoje a minha ficha não caiu. Durante o processo eu sentia aquela adrenalina constante por ter que fazer N coisas na faculdade e ainda me sair bem nas disciplinas. Agora, se manter é importante, mas mais do que isso, é ter a plena consciência que o caminho que trilhei deu certo. 

E se você está aqui pensando em tentar do DD, eu te digo que vale a pena. Provavelmente você passará por uma introdução, mas o restante do caminho você possuirá foco, pois sabe onde pretende chegar. Não necessariamente será mais fácil, provavelmente não será, mas depois de passar a linha de chegada é alucinante. 


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terça-feira, 17 de setembro de 2019

O que é Paris ? Eu vivi mesmo isso tudo ?


Tento escrever esse texto enquanto a memória das lembranças que vivi começam a desbotar da minha consciência. Essa volta para Belo Horizonte foi mais aterrorizante do que pensava. Quando peguei o avião, vi uma França recortada em paisagens modificadas. Até o horizonte, os arredores de Paris eram recortados por formas retangulares verdes e laranjas. Perto das cidades entre os campos, as árvores delineavam os limites entre o urbano e o rural. Quando desci 12 horas depois no aeroporto de Belo Horizonte, vi até o horizonte uma paisagem modificada. A terra vermelha e seca era a marca de que há muito tempo não chovia na minha casa. As árvores frondosas e esparsas de Minas Gerais. A mulher chamada Marlene, moradora do barreiro, que durante todas as extensas 8 horas de avião entre Lisboa e Belo Horizonte, me fez lembrar desse sotaque tão amado.

Fazem três semanas que cheguei. É como se você tivesse largado um desenho por terminar e voltasse dois anos depois. O papel continua o mesmo, embora tenha envelhecido um pouco, ele ganhou aquele coloração amarelada. Algumas partes mais complicadas, como as mãos, você nem se lembra mais como faz. Outras partes que você havia começado a colocar cor, mancharam ou perderam a intensidade pelo tempo que passou. E na verdade, quando você olha o desenho... O que estávamos desenhando? Era uma pessoa ou um prédio? Estávamos mesmo desenhando? 

É retomar o inexorável. 

Eu permaneço em estado de comparação. Preservar a memória dessa existência do outro lado do oceano parece essencial pra realizar as mudanças que quero na minha vida aqui. O que foi Paris pra mim?

Muito além de todas idealizações, todas as fotos de Instagram com a torre Eiffel, todas as fotos de vestidos e beijos floridos no sol do verão parisiense e de todos as boinas, bigodes e baguetes embaixo do braço, a pergunta que mais me veio à cabeça nesse tempo foi : Onde está aquela Paris dos filmes ? Onde a cada esquina tinha um acordeão, um francês de bigode e blusa listrada preto e branca, um baguete embaixo do braço e fumando seu cigarro enquanto fala sobre a vida ? 

Até hoje só encontrei a baguete embaixo do braço. Os acordeões nas esquinas são imigrantes ou refugiados buscando uma vida melhor e eles tocam música para que os turistas joguem uma moeda no estojo do acordeão. Os vestidos e beijos floridos foram editados no photoshop, as esculturas e obras magníficas do Museu do Quai-Branly não revelam os massacres contra os povos africanos. Isso e todo o resto, na verdade, se traduz numa fila gigantesca pra subir na torre Eiffel. Conheci muitos parisienses que nunca subiram na torre Eiffel. É um preço exorbitante que alimentaria uma família de 3 pessoas durante pelo menos um dia.

Paris pra mim foi sobretudo um ambiente de adversidades. Eu tinha acesso à uma escola de engenharia de elite e ao mesmo tempo, eu tinha acesso à uma geladeira e uma prateleira vazia em casa. Acesso à pessoas que estavam vivendo a melhor parte de suas vidas, saindo todos os dias, indo em festas incríveis e realizando viagens inesquecíveis enquanto eu chegava em casa e tentava ignorar a necessidade do meu corpo de jantar. Foi um ano e meio dos dois anos que convivi entre as pessoas iluminadas que moravam no céu, enquanto minha alma continuava no inferno. Às vezes eu sinto que minha mente preferiu acreditar que tudo era um sonho. E eu vivi nesse lugar entre a realidade e o abstrato durante todo esse tempo.

Dentro de mim, Paris tem um outro significado. Lembro que todos os dias quando saíamos do metrô, um homem, que morava na estação Pyrénées, estava lá sentado com um círculo de sujeira extremamente fedorenta ao redor de si. Os funcionários do metrô jogavam um desodorante ao redor dele pra justamente inibir o cheiro forte. Sempre me perguntei por qual razão ele acordava todos os dias, sentava-se naquela cadeira, se sujava completamente e ficava olhando as pessoas saírem e entrarem no trem do metrô. Será que ele gostava de observar ou o que ele queria era ser observado? Na rotina dos dias, lembro que à partir de um momento preciso, ele não estava mais lá. Um elemento da minha rotina havia mudado. E na minha consciência, a pergunta "pra onde ele foi?" se manteve constante durante algumas semanas. Teria ele desistido de ficar ali? Talvez ele tivesse finalmente encontrado o que queria ver ou viver. Mudado daquela rotina prisional, aberto a porta de quem ele era e atravessado em direção ao desconhecido que mora dentro da gente. Talvez tivesse falecido, avançado em direção aos trilhos enquanto o próximo trem se aproximava.

Algumas semanas mais tarde, ele estava lá novamente. O alívio pela presença dele e a tristeza por ele não ter conseguido se libertar dali foram imensos. Eu não conseguia me libertar e eu havia torcido durante todas aquelas semanas pela liberdade dele. Estávamos ambos ali, prisioneiros da nossa própria realidade, sem previsão de condicional ou tratamento especial. Mas que realidade era essa que éramos prisioneiros? Eu acordava, tomava uma ducha, ia pra EIVP, estudava o dia todo com o intervalo de almoço, saía com alguém pra conversar sobre aquilo tudo que estava vivendo, voltava pra casa e estudava mais um pouco. A rotina dos dias esconde as regras que nos foram impostas por esse jogo que chamamos sociedade. 

Acreditava que precisava ir em todas as aulas, mas aprendi que as melhores aulas são nas ruas, com as pessoas que estão ali vivendo e tendo experiências únicas e pontos de vista inestimáveis. Paris me fez ver que a maior riqueza que nós temos nesse planeta são essas pessoas. Conheci pessoas que fizeram fortuna trabalhando com advocacia e outras que fizeram fortuna com prostíbulos. Conheci pintores totalmente desconhecidos e geniais em noites completamente absurdas e garçons que como eu, tentavam viver naquela cidade extremamente cara. Conheci o céu e o inferno, mas também conheci o espaço no meio, onde a maioria das pessoas vive.

Paris me mostrou a riqueza que cada um contém. Como os pontos de vista podem se unir pra formar uma nova perspectiva que é mais do que a soma de suas das partes.

Agora fica a pergunta de como usar isso tudo aqui. Nesse desenho inacabado que deixei de lado.

Mas mais importante do que terminar esse texto com uma frase de efeito. Queria te perguntar déjà.

O que você acha?
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quinta-feira, 15 de agosto de 2019

A última flor do Sena



Aos domingos, Paris amanhece estranha… é incrível. Há um marco zero diferente na cidade. Magnetizado, ele puxa os estudantes conforme o sol se impõe. À beira do Sena, lá está a flor, a última (ou a primeira), em um dos raros guetos de prédios novos e ruas largas da capital, encurralada entre o rio e a Biblioteca Nacional, apresento-lhes, mesdames et messieurs, La Barge du CROUS de Paris.

O caminho do beija-flor

É muito fácil chegar lá, independentemente de onde você estiver. Tem tramway 3a, tem a linha 14 do metrô, tem RER C, tem Vélib’, tem a porra da patinete elétrica. Só não tem desculpa pra não ir.
Cuidado! Se pegar a patinete elétrica, não ande na calçada. Se a fiscalização te parar, vai ter uma multinha pesada te esperando.
Indicações precisas de itinerário, só com o Google Maps e afins (aliás, baixa logo o Citymapper, melhor app do mundo pra se locomover em Paris). Sem rumo e sem bateria, vá pra Châtelet e pegue a 14 até a biblioteca, voilà ;)

O néctar

Além dos pratos bem mais ou menos, do jeito que o estudante gosta e tá acostumado, a barge é um ótimo endereço pra ouvir a língua portuguesa, a última flor do Lácio, nos mais variados sotaques. Porque sim, somos parecidos demais e pensamos igualzinho. Acho que a ideia de comer fora num almoço de domingo, em um barco sobre o Sena e por 3,25 € é irresistível demais pra um povo que assiste seus rios morrerem lentamente. Desculpa, desabafo político aqui.
ALERTA
Por enquanto não existem muitas opções veganas ou vegetarianas no cardápio, tomara que isso mude para as gerações seguintes.

Voar, voar… subir, subir…

Na parte de cima do barco tem um café bem legal. Nos dias de tempo bom pode valer a pena dar uma passada lá. Curti quando fui. Só uma vez, mas foi bacana.
Algum megaevento esportivo rolando? Normalmente eles transmitem algumas partidas de futebol na barge. Champions League quando tem PSG na fase de mata-mata (o que nunca dura muito, triste) ou mesmo a França nas Copas do Mundo e Eurocopa.
Copa do Mundo é um evento a parte, eles exibem todas as partidas das grandes seleções, exceto as do Brasil. Foi assim em 2018. Ou é raiva do Neymar, ou, no passado, alguns brasileiros tocaram o terror por lá.

Esplendor e sepultura

A barge é, em essência, um espaço de encontro barato e conveniente aos domingos. Repito, aos domingos, dia do brunch. Nos outros dias é como qualquer outro restaurante do CROUS, que existem aos montes pela cidade.
Quando você não se sentir mais turista na cidade, vai ver que os domingos realmente amanhecem diferente em Paris, e que o marco zero não é mais na Ile de la Cité. Quando perceber, já vai estar escutando o bom e velho avancez, s’il vous plaît ! da fila. Bon app’.
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quarta-feira, 31 de julho de 2019

Queria que tivessem me dito isso no começo do intercâmbio


Hoje uma pessoa no trabalho me disse que ela não pode contar com meu julgamento porque ele não é objetivo.
 

Atualmente, estou fazendo meu estagio em Lyon. Foi uma das poucas oportunidades de trabalhar com engenharia de dentro da empresa - no escritório - ao invés de trabalhar no canteiro de obras. Foi também a primeira oportunidade de observar o ambiente corporativo francês. O modo como as pessoas se comportam, sobre o que elas falam, como elas se vestem e quais características são louvadas e quais são execradas.

Ainda não tinha trabalhado em escritório estando na área da construção e algumas das minhas experiências anteriores na França para compensar a falta de bolsa de estudos - o que afetou bastante meu desempenho escolar - haviam sido :
  • Como garçom
O Hotel/Restaurante era luxuoso então recebia pessoas do mundo inteiro que passavam por Paris. Encontrei produtores brasileiros de café tentando vender café na França (aparentemente apenas 2-3 pessoas vendem o café brasileiro em toda Europa, se você tenta não passar por essas pessoas, você é boicotado), alemães que trabalhavam nas grandes corporações de direito europeu, artistas que trabalhavam na Paris Fashion Week, americanos de todas as partes dos EUA - inclusive me perguntaram se fazíamos hambúrguer, o que deixou o chefe do restaurante extremamente nervoso.
Eu era o único garçom/caixa/assistente de cozinha/bartender/faxineiro nos fins de semana, posso te confessar que em relação aos preços dos pratos, eu pagava meu salario em um dia de trabalho. Porém meu contato era em grande maioria com turistas, pessoas que estavam felizes por estarem ali. Não havia contato com a gerência do restaurante nem com o grupo que gerenciava o empreendimento.
  • Como freelancer em informática
Aparentemente é uma realidade tanto no Brasil quanto na França: as pessoas que trabalham com informática são exploradas. Nunca recebi tão pouco pelo tanto que fazia. Encontrei pessoas de todos os tipos e nacionalidades, entrei nos escritórios de La Défense com a vista sobre a Fundação Louis Vuitton e mais ao fundo sobre a torre Eiffel para instalar computadores estando com fome e com frio durante um dia inteiro.
O problema não era o trabalho, trabalhar nunca é um problema. O problema principal era a falta de dignidade de condições ideais de trabalho. Um padrão muito interessante era que os estrangeiros eram empregados com contratos de curta duração (Mini-CDDs) e os franceses conseguiam contratos de longa duração (CDI).
  • Como estagiário de Engenharia Civil em um canteiro de obras
Embora tenha sido uma experiência extremamente dura e em certos momentos traumatizante, foi minha primeira experiência direta com engenharia civil. Eu não tive contato com muitas pessoas nem estava inserido no ambiente de trabalho da empresa que eu fazia parte. Dentro do canteiro existia uma relação de suserania e vassalagem, uma hierarquia infelizmente necessária mas não menos excruciante. A parte mais interessante foi ouvir a experiência dos pedreiros, dos artesãos e das pessoas que faziam parte do verdadeiro trabalho do canteiro, de produzir diretamente aquele edifício. O canteiro é um ambiente multicultural. Eu falava mais português do que francês durante meu estágio. Logo não havia contato com a tal da cultura corporativista francesa.
Esse estágio como Engenheiro de Métodos (Ingénierie Méthodes) em Lyon foi a primeira oportunidade fora da Escola de Engenharia de entender como a engenharia funciona fora do canteiro, ou de uma maneira mais generalista, como são certas relações de negócios na França. Estando nesse novo ambiente, pude comparar como ele reflete ou deflete em relação aos ambientes anteriores.

Mesmo que tenhamos reflexões relevantes internamente - diga nos comentários abaixo se você concorda - sinto que nunca fui estimulado à compartilhá-las no Brasil. Sempre que não gostava de algo, era melhor dizer que estava bom pra não “ofender” a pessoa do que dizer a verdade - mesmo que de modo construtivo. Lembro inclusive de situações na vida no trabalho que se opor à hierarquia presente era visto como um desafio. Tanto na sala de aula quanto no trabalho existem relações hierárquicas muito fortes onde os chefes e os professores são criaturas a serem "adoradas".

Essas experiências moldaram meu comportamento, mesmo que em algumas famílias essa abordagem seja diferente, senti que na cultura francesa observei o incentivo contrário na grande maioria dos casos.

Desde pequenos as opiniões das crianças são ouvidas e incentivadas assim como postas em cheque. As crianças participam ativamente dos assuntos em pauta na mesa de um almoço de domingo. Uma opinião generalista como “isso é interessante” ou “isso é importante” é compreendida como inocente e fútil, então as crianças são incentivadas a dar respostas bem argumentadas e completas. 

E faz todo sentido. Uma frase como "isso é interesante" é relativamente normal mas nela falta precisão como : O que é importante exatamente? Qual é o objeto da conversa? Se estivermos falando sobre direitos humanos, qual aspecto dos direitos humanos é importante ? Em quais situações você está pensando precisamente quando faz sua consideração ? Essas situações são realmente regras ou são exceções ?

Existe uma certa genialidade em falar a verdade usando a retórica que é louvada na França. A eloquência é tida como a característica última das pessoas inteligentes. Escrevi isso no meu outro texto aqui. Talvez seja por isso que o RAP francês está tanto em voga. Para essa pessoa no meu trabalho em Lyon, eu não emitia opiniões suficientemente exatas. Mas pra quê dar uma opinião com um encadeamento lógico perfeito em um assunto que desconheço? Só pra parecer "genial"?

Eu diria até mais... em outras situações como no estágio no canteiro de obras, esse julgamentos objetivos passeavam bem próximos ao desrespeito.

Finalmente, em que situações nesses últimos dois anos uma adaptação foi necessária? Como discernir onde está uma frase "bien tourné" nessa linha entre o desrespeito e a "genialidade" ?

Um dos meus maiores receios desses dois anos foi ser mal compreendido. Falando uma língua que não era a minha, perdendo milhares de nuances culturais todos os dias e pisando em ovos a cada contato. Mas sabe, e daí? Mesmo se a gente cometer uns erros aqui e outros ali, somos capazes de aprender apenas no momento em que nos lançamos. 

Não tem problema você ultrapassar a linha, é até importante que você a ultrapasse correndo o risco de errar. 

Se você observar que a reação não foi das melhores, se você esforçou para se fazer entender e não deu certo, a melhor dica que eu posso te dar é muito simples :

Peça desculpas. Mas não tenha medo de errar.
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terça-feira, 25 de junho de 2019

G16/EIVP voltando ao Brasil em um mês + MegaPack "Pisei na França e Agora ?"

Olá à todos vocês ! Aos que estão chegando, bem-vindos e aos que estarão partindo, simbora!

Nessa reta final do intercâmbio, o tempo tem passado depressa. Quase como se ele corresse pra próxima cena, para o próximo diálogo entre personagens. Esses anos pra mim e pra todos desse intercâmbio foi um ano de desafios. Cada um enfrentou dificuldades inimagináveis pelo caminho, encontrou respostas extremamente interessantes à partir dos desafios impostos.

Semana passada nós da EIVP apresentamos o trabalho de conclusão de curso ou travail de fin d'études. Na minha experiência pessoal, foi sensacional ser capaz de fazer a apresentação do TFE na EIVP, sozinho, para um jury de duas pessoas extremamente exigentes e que acolheram minhas idéias assim como meu raciocínio. Mesmo as idéias e as respostas que improvisei na hora da apresentação.

G16 - EIVP - Junho 2019

Estava pensando que ao contrário do clichê, não passou rápido. Foram dois anos sem bolsa, dois anos contando com a ajuda diária das pessoas ao meu redor. A razão de não ter desistido? Justamente essas pessoas me mostraram um apoio imenso, devo tudo isso à elas.

Nesse sentido, quero sempre tentar retribuir um pouco do que fizeram por mim. Então pra quem está chegando, vou escrever aqui um MegaPack de dicas. Correndo o risco de ser um pouco repetitivo em relação ao guia ENPC/EIVP, mas especificamente pra EIVP  :

1 - Alojamento :
A EIVP tem uma parceria com o CROUS Créteil e pedindo mais informações às pessoas na secretaria, ou por e-mail, eles podem conseguir uma vaga pra você. Não é uma promessa, mas uma possibilidade. Porém, uma vez que eles te enviam o e-mail de aprovação, você precisa responder o mais rápido possível pra garantir sua vaga. A segunda opção é procurar nos grupos do Facebook da EIVP.

2 - Celular / Chip :
Os correios (La Poste) vendem uma opção de chip pré-pago que você pode usar pra receber ligações, custam 10 euros aproximadamente.
Algumas operadoras como Free Mobile tem promoções em que você paga 1 euro por mês durante 1 ano, obtém 100 gigabytes de dados, ligações e mensagens ilimitadas.

3 - Banco :
Em 2018 e 2019, os bancos online finalmente chegaram na França. Pra maior parte das operações francesas, você precisa de um RIB francês, como pra receber algum auxílio estudantil ou o seu salário de estágio. Normalmente por lei, eles são obrigados a depositar no RIB que você fornecer. Mas a maioria dos softwares que eles usam pra organizar os RIBs, só aceitam números de RIB franceses.
NÃO ACEITE TODOS OS TERMOS DO CONTRATO DO SEU BANCO. Eles incluem diversos pacotes e serviços que você não vai usar ou que você pode encontrar em outros lugares mais barato como os seguros de alojamento.
Um bom banco é o Boursorama : https://www.boursorama-banque.com/?origine=2403
Peça à alguém um código de partenariat pra você ganhar 150 euros ao abrir sua conta.

4 - Transporte
Dentro de Île-de-France, você pode ir pra todos os lugares uma vez que você possua seu Passe Navigo. O plano estudante se chama Imagine-R. E finalmente, ele também pode ser feito online. Uma maravilha ! Se você não tiver um endereço aqui na França, entre em contato com os moradores atuais, tente negociar pra pedir com antecedência e mandar entregar na casa de alguém que irá te buscar no aeroporto. Ele demora um pouco à chegar e quanto mais rápido você adiantar, melhor pra ti !
https://www.imagine-r.com/

5 - Roupas de frio
As roupas mais baratas estarão na Primark. Existem algumas fora de Paris.
As roupas baratas, mas ainda assim em conta, você pode encontrar nos mercados de rua, principalmente no bairro de Belleville. Não hesite à comprar com alguns meses de antecedência. Um verão bem quente é certeza de um inverno ridiculamente frio por aqui.

6 - Se tornar 100% fluente em francês e francês técnico
Se eu pudesse fazer uma curva de aprendizado do francês desde que eu cheguei, seria assim :

Eu senti que aprendi muito nos primeiros meses e depois de um tempo, senti que não estava conseguindo fazer nenhum avanço durante vários meses. Me perguntei qual o motivo, tentando encontrar uma resposta em mim. Estava bem aí meu erro.

Quando usamos uma linguagem, nós temos modelos mentais do que significam as palavras e as expressões que elas contém. Como quando falo "esse trem é bom", a palavra "trem" na minha mente é um modelo genérico de qualquer elemento que eu esteja com vontade de destacar - logo uma das vantagens em ser mineiro. Pode parecer simples, e é. Esse modelo mental foi aprendido por mim ao longo das minhas interações com as pessoas. A única maneira de você aprender alguns desses modelos mentais é com os franceses. Sem a integração, sem ir nas festas com eles, sem conversar, puxar assunto mesmo aos trancos e barrancos, não há como você encontrar esses modelos mentais na internet - ou muito raramente.

Ainda mais complicado é o uso de termos técnicos em francês. No início, muitos termos técnicos fugiam à minha compreensão. Fiz um dicionário bem rudimentar francês-português em engenharia civil, mas prefiro não compartilhá-lo. Ao invés disso, forneço aqui um exemplar ainda mais completo da tradução inglês-francês em Engenharia Civil :

 https://drive.google.com/open?id=1BHteQsEIuwXzDHviKC9f7M1jDAX6tLo9


7 - As vantagens de não ser um especialista - Tente aproveitar ao máximo as conferências e atividades extraclasse propostas pela EIVP e procure outras, mesmo que o tempo esteja curto ! São essas participações que vão te dar as referências, o espírito crítico e o vocabulário em engenharia na língua francesa
Estava lendo essa matéria muito interessante sobre como pessoas que são generalistas - pessoas que se interessam por uma variedade de assuntos - tem uma flexibilidade em adaptar o conhecimento entre essas áreas que pode levar à contribuições surpreendentes.

A EIVP é uma escola de engenharia generalista. Ela forma engenheiros que sejam capazes de se adaptar à diversas situações. Num mesmo dia você vai calcular e dimensionar uma laje em concreto e vai realizar um projeto que precisa atender uma necessidade - que você deve ser capaz de absorver - de Paris e seus arredores.

O artigo está aqui, nesse jornal maravilhoso chamado Nexo Jornal.

Tente sempre adaptar sua história, sua cultura e quem você é para colocar em prática nos projetos da EIVP. O meu primeiro projeto da EIVP, me inspirei na arquitetura do Niemeyer na obra da Igreja da Pampulha. O primeiro projeto, o Projet Construction, é completo. Realizamos todo o processo de concepção desde a compreensão da necessidade do cliente até a entrega do projeto (dossier) como se fosse uma resposta à uma licitação (appel d'offre). Não era um projeto perfeito, não foi um dos meus melhores trabalhos, mas foi uma maneira de dizer que sentia saudades de casa.


E logo chego aí em casa.
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